quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Pôr-do-Sol


   - Vamos sentar ali! - disse Marina, gesticulando alegremente para um pequeno banco de madeira, logo abaixo de uma árvore frondosa. Puxava Renato pela mão, guiando o garoto para o lugar desejado.
   Menina maluca essa, pensava Renato. Não podia ver uma sombra de árvore que já queria se esgueirar para baixo dela. Mas não ligava para as manias da menina. Seus lindos e grandes olhos castanhos de tom amarelado lhe fascinavam, igualmente com sua longa cabeleira cacheada de mesma cor. Sua pele rosada que exalava um doce perfume, seu sorriso angelical... Como era linda!
   Foi com um novo puxão de Marina que o garoto voltou a si, despertando de seus devaneios.
   -Vem logo, Re! Vamos, antes que alguém sente.
   - Quem, Marina? Não tem ninguém aqui além de nós, relaxa. - disse, pesando o corpo propositalmente para não ser mais arrastado.
   E era verdade, ponderou Marina, olhando para os lados e afrouxando a mão para dar liberdade ao pulso do garoto.

   Fazia um lindo dia de sol, apesar do frio com cortantes ventos que assoviavam de tão fortes. Estavam no mês de julho, e os termômetros marcavam onze graus.
   - É, tenho que admitir, você sabe escolher os lugares muito bem! - disse Renato, deslumbrado com a paisagem estonteante que lhes cercavam.

   Era um parque comunitário gigante, com árvores variadas e um lindo lago ao longe, onde alguns patos e pequenos cisnes se deliciavam, nadando de lá para cá. O nome do parque era Ibirapuera, e era a primeira vez que Renato o visitava.
   Marina estava tão contente que não conseguia tirar o sorriso do rosto. Era bom demais pra ser verdade: ela ali, sozinha com Renato, seu amigo de infância. Sempre desejara ter um momento a sós com o rapaz, mas com a constante -e por vezes irritante e exagerada- vigilância dos pais sobre eles, nunca conseguiu realizar tal feito. Desde criança, Marina nutria um sentimento bem mais forte que amizade pelo garoto, mas era jovem demais para entender realmente o que sentia. Agora com 16 anos e Renato 17, ela já estava grande o suficiente para saber que aquilo que sempre sentiu pelo amigo era amor.

   Sentaram. Por uns instantes, ambos nada disseram e apenas observaram a linda paisagem ao redor. Foi Renato quem cortou o silêncio.
   - Ei Ma, sabe o que isso ta parecendo? - disse, abrindo um largo e amarelado sorriso.
   - Não. O que?
   - Ta parecendo aqueles filmes de terror americano: um bosque gigante, ninguém por perto e um par de adolescentes bobos e desatentos, alvo fácil de um maníaco assassino escondido numa moita, hahaha!
   Marina olhou o amigo e franziu o cenho, visivelmente aborrecida. Se tinha algo que lhe irritava em seu amigo era a inconveniência e seu chucro senso de humor.
   - Aff Renato, para de ser idiota, você só fala besteira!
   - Oohhh, ficou bravinha, Ma? - disse, fazendo pilhéria da mudança brusca de humor da garota.
   - Não! - retrucou, cruzando os braços e fazendo beicinho - Mas é que tenho medo desses filmes. A maioria são de histórias reais, você sabia?
   - Hahaha, sabia - riu Renato, chegando mais perto de Marina - E eu também sabia que você tem medo. Você fica tão linda com medo...
   Marina desfez sua carranca e passou a olhar o rapaz de olhos esverdeados e cabelos pretos. Um frio percorreu-lhe a espinha quando sentiu a mão do garoto lhe acariciar os cabelos, e a puxar levemente seu rosto de encontro ao seu.

  Renato mal conseguia respirar. Suas pernas tremiam e as borboletas em seu estômago quase lhe faziam flutuar. Olhando fixamente nos olhos brilhantes da garota, alisou-lhe os cabelos e, com a mão em sua nuca, puxou-a para si, dando um demorado beijo. O beijo que sempre sonhara em dar. Os lábios que sempre desejou ter, com a garota que sempre quis para si.
  Renato a beijou, sob a dourada e acolhedora luz do pôr-do-sol.


[Tayane M. Moura.]

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